Monday, September 25, 2006






Friday, September 22, 2006

Oh let the sun beat down upon my face, stars to fill my dream
I am a traveler of all time and space, to be where I have been
To sit with elders of a gentle race, this world has seldom seen
They talk of days for which they sit and wait and all will be revealed
Led Zepplin

Thursday, September 21, 2006

Numa encruzilhada fustigada pelos ventos quietos e silenciosos do verão, encontrava-se um pequeno rapaz. Bab Al’On avistou-o encostado ao muro cinza, coberto de musgo; falava e brincava com os seus próprios dedos e ostentava consigo um ar desleixado. Bab Al’On, galopou, calmamente, como que para não desviar a criatura das suas imóveis viagens, e, enquanto passava a seu lado permitiu-se a palavra. “O que fazes aqui? Estás perdido?” Perguntou.

Fitando as pedras do solo arenoso, com um ar algo desamparado, olhos postos num qualquer objecto que pairava no infinito, respondeu por sua vez. “Olá. Eu sou o A. Perdido do quê? Eu estou a conversar.”

Por detrás do seu véu escarlate, Bab Al’On sorriu. E esse sorriso teria rasgado o menino num jacto sanguinolento estivesse ele a descoberto. “E com quem conversas tu, ó menino?” E o menino riu-se. “Como assim, com quem? Eu converso com todos. Comigo.” Bab Al’On aquietou a sua montada e desceu. “Não tens outra pessoa com quem conversar? Uma menina?” O rapaz fixou a sua atenção noutra pedra. “Sim.” Bab Al’On aproximou-se sem ruido, a sua sombra tocava já o rapazito. “E onde está essa menina?” O rapaz, cedendo ao hábito, deu um pontapé na pedra que estava mais próxima das suas botas. “Não sei. Ela está por ai. Às vezes ela aparece aqui, depois da linha, ali,” apontou “onde passa o comboio.” Silencio. “Ela não tem muito tempo, tinha de estar com outro rapaz. E depois como tinha uma casa tinha de trabalhar. Mas ela vinha aqui, depois da linha, depois tinha de estar com muitos rapazes. Eram muitos. Ela não tem tempo porque eu sou só um. E não gosto de muitos, gosto só de um também.” O coração de Bab Al’On abriu-se, como uma vulva, pela inocência do rapaz que se assemelhava ao eterno primeiro desponte no jardim das almas; e, todavia, manteve em si captiva a visão do lobo. “E tu, menino, não tens casa? E um emprego?” O menino riu-se de si para si e quase levantou os olhos. “Tenho uma cama que é onde durmo. A casa é assim” ele apontou para tudo à volta. “Eu tive a trabalhar a fazer caixas de música, eles disseram que era no inferno” sorriu também ele “mas eu acho que era outra coisa qualquer. Depois disseram que eu fui o melhor e que não podia ficar ali. Que existem outros sítios.” Bab Al’On estendia a sua mão enluvada sobre a cabeça do rapaz, e o rapaz não via ainda uma luz e um eclipse. “E ficaste à espera, ó menino?” O rapaz riu-se de novo como uma criança, e o coração de Bab Al’On segregava. “Esperar? Como assim? Esperar o quê?” Depois, quando voltou o olhar para Bab Al’On, este recuo um pouco. O rapaz viu um Senhor Árabe, coberto de largas vestimentas escarlate, de luvas cinzentas, ou seriam negras? As pulseiras, sim, as pulseiras eram negras. O rapaz não entendia muito bem porque o Sol parecia bater no senhor e criar um misto de escuridão e luz. “E tu, quem és?” E quando Bab Al’On largou as suas vestes e afirmou ser a Casa do Deus Sol, o rapaz tornou-se guerreiro, e guerreiro se tornando, querendo sobreviver à esperança do eclipse que existe ali onde tudo falha, empurrou uma lança cintilante no coração de Bab Al’On.
Para seu terror, Bab Al’On, inchando, abortava agora a menina, e todas as coisas que eram queridas ao menino. E, quando o menino, que voltava a ser menino, fechando os olhos no advento do terror, procurou escapar, também ele saiu como uma má formação do ventre d’Aquele. Então o menino caiu como um sopro de morte; e, no parto, Bab Al’On suspirou por uma ultima vez.
A montada fez de ambos banquete e, envenenada, ali onde foi enterrada, começou a crescer uma árvore, que vinha do céu para encher a terra de galhos e de novos meninos e de novas meninas, todos polinizados de morte. Todos eles secretamente habitados e conduzidos pela morte e pelos seus anjos de luz e fogo na via da bruma.

Sunday, September 17, 2006

Tu sabes em que esfera me vou esconder, quando o meu nome for conhecimento?
Tu sabes que me podes estar a perder, e ainda ter consciência disso, um previlégio que todos os estranhos deixam escapar por direito.
Deves, mesmo, saber que estou doente com o teu pulsar de mortal. Que a eternidade se sacrifica quando respiras ao pé de mim. Deves saber que eles costumam nomear os momentos de amor.
Se olhares bem para o que te dizem os meus olhos, ó pacto de sangue, vês que já te matei no mar de esquecimento da vida que jamais será abandonada. Quanto mais amor avistares num olhar destes, maior será o desconhecido que a alma que o veste sofrerá. Não há como seguir um amante na sua cavalgada selvagem. Não há como estares a salvo. Tu sabes que um dia romperei a tua coluna. E que as raízes das arvores profundas se afundarão tanto que penetrarão a morte. E depois quem saberá de nós e da nossa eternidade senão os deuses que queimam, e a nossa assinatura na história viva contada de dentro para dentro, em preplexos avessos.
A vida é a dádiva amor, a dádiva a tudo o que transcende por todo o lado, e não pode ser de outra forma. Ofeceço-te por todos os reconditos. E tu, que procuras desfazer-te em mim, sem nunca me descobrir, estatelas-te contra ti (isto para riso dos demónios)
Devorar-te custa-me. Mas tem de ser, porque depois será a minha vez na toxina da boca do reptil. Sim, esse, que eu trituro também.

Os cavalos brancos dormem em câmaras escuras e fechadas. Entretanto, os sonhos de Inverno prosperam.
Como a frieza de te perder na implacabilidade de continuar. Como a serpente de gelo que queima: “Quero-te sempre perto”.
Como o por do Sol entre silvas cinzentas, ou a humidade que se perde nos teus lábios.
Como o palhaço albino que se enrosca nos frios raios do Astro.

Monday, September 11, 2006

O cansaço invadia-o, em todo o fôlego, em toda a carne.
Tombou na cama procurando, de olhos fechados, a alquimia da morte segura e despreocupada.
E ali, quando completamente indefeso, deixou passar um comboio. Sentiu a casa estremecer, abalada por uma paixão há muito perdida. Não sabia localizar, exactamente, o momento em que se perdera paixão aquela, porque tendia a confundir os nascimentos com as mortes, e as mortes com os nascimentos.
Os seus músculos e a sua respiração tornavam-se trémulos com a passagem do veículo e com o tremeluzir luzente da sua habitação.
Foi um comboio que trespassou, corajosamente ou apenas no ímpeto do suicídio, a escuridão completa da noite. Ele passou sem parar. Acredito que tu eras ali passageira, despedindo-te de mim, uma vez mais, num adeus sem tempo.
Um dia eu acreditei em ti, romance escrito às espirais da lua, de letras perdidas nas íngremes fendas da terra.
Deixo-te, agora, aos mortos que ali habitam, sem ter a certeza de estar vivo.

Sunday, September 10, 2006

Construí o meu caldeirão de ouro e latão. Enchi-o de um plasma acolhedor e ardi.
As palavras ecoavam no silêncio de páginas vazias de branco.
As horas de maior solidão marcavam a noite eterna em que me embriaguei de coisas incompreensíveis.
E uma vez mais, não são todas as coisas incompreensíveis, só por serem em si mesmas? Simples, derradeiramente simples, fatalmente simples, intoleráveis à razão.
Escrevi, afundando-me em histórias mudas, como crianças de ossos crescidos que me agarravam a perna num mar de imensidão estranha, estranha e escura.
Havia sempre, todavia, um Olho. E eu dizia: escrevo para o Olho. O Olho não sabe criticar, porque ele só me conhece a mim, e correctamente, porque sou tudo o que pode existir.
Ó teatro de sombras… Teatro de sombras…
Ó fantasma cansado, que a si mesmo se alimenta em mais um banho de frases antigas, poeirentas, acabadas de sair…
Mofo, o meu sangue é mofo… E ainda assim tu queimas-me, eternamente, com a luz do dia distante e nunca por vir.
Só tu Compreendes, só tu és capaz de me reduzir a nada… a um nada tão absoluto, tão atormentado pela violação da sua própria expressão.
Tudo isto uma vingança, porque não há razão de Ser. Uma Vingança sem razão de ser…
Eu vou voltar… eu volto sempre, ossadas das cloacas do tempo. Ossadas do passado e do futuro. O que resta hoje é a vossa história, ossadas que de ossadas nasceram, que para ossadas verteram.

“Eu vou-me libertar!”
“Eu vou-me libertar!”
….
Eu vou-me libertar
Dizia, fitando um comprimido branco,
Numa sala branca, cheia de gente branca,
Gente que não estava lá; só ele, no mundo
Só ele é que se ia libertar.

E do outro lado do comprimido ingerido
Um rapaz que escrevia um ensaio sobre a perfeição do homem, sobre a razão, e o equilíbrio são.
Um libertino do pensamento, dedicado à obra filosófica.
Recordava-se do seu gato e como ele podia dizer tanto, só porque era acariciado; da cor dos carros que o atraíam contra eles; era da mesma cor da luz eclipsante das pastilhas.
E todas as autoridades que o vestiram com roupas indesejadas.

E o comprimido branco.
Que o ia libertar.








Depois o outro escrevia um poema de amor:
O seu primeiro poema, e era para ela.
Ele tinha decidido captura-la num vaso sanguíneo para que não se extinguisse com a morte eminente.
Algo de estranho se levantava no processo. O seu espírito erguia-se de tal galanteio, e queimava-a toda, carne, alma, e o amor que ardia logo ali se extinguia com o ultimo sopro de vida da primeira bruxa.
As cinzas dela eram então a minha paixão, louca Fénix, enterrei-a em mim como se me fizesse terra. Engoli-a até aos ossos. Depois… Menti-te em todos os cantos, com canções diferentes.
Odiei-te ainda até hoje.











E então aquela, afogada no seu copo, sempre à superfície dos seus sonhos. Ele gostava de pensar nela como a eterna puta, a que vendeu a maior pureza que habitara as entranhas sangrentas e sujas da terra: que se vendeu a si mesma. Mas a verdade é que o unicórnio não pode para sempre galopar no antro da imundice. Ele era um demónio com uma coleira e um chicote e ele a ferida da branca pelugem a tornar-se em negro manchado. Ela, selvagem, nunca mais olharia para ele senão com ódio. Ah, mas o amor que lhe ia no coração. Esse, fê-la fechar a janela do olhar, até que não mais se pudesse encontrar. Então nem ódio nem amor. Mas um silêncio, arrepiante, absoluto. A Marca, no destino de todos nós.

Friday, September 08, 2006

Existe silêncio.
Existe um grande silêncio.
Só perturbado pelo movimento lento e absorvente dos vermes.
O movimento lento e absorvente dos vermes enquanto devoram todos os filamentos vazios e decrépitos da paixão, ateando outros fogos passionais, os fogos passionais da decadência.
Silêncio, e ouço apenas as ondas do oceano... Contam um peso sem substância que não a profundidade. O peso mais pesado é leve...
O ondular...
Existe Ira na altura da luminosidade; enquanto a luz não se formou ainda e as trevas não se apagaram de todo.
Tisifone avança como uma nuvem intoxicante de fumo, ah, todas as sombras se reunem... sulcadas no pano de fundo da claridade. A minha ira espeta as precepções alheias, para te dar o que é teu, e a Deus o que é de Deus. Eu sou o Senhor.

A minha dor, será a tua dor.



CAP I

Liberdade

4 - Morte

"Adiante, ó Senhor dos Sete frutos negros. Adiante"

Empurrou-me para a cova. E colocou-se sobre mim. "Malvada da mulher que se coloque acima do homem", e riu-se, languidamente. Os seus olhos soltavam chispas de uma luz que parecia vir directamente de coisa nenhuma. Quando ela, a Morte, sorria, recordava-me de um ancião, o mesmo ancião que já presenciara na forma do Diabo. "Tu ainda não entendeste o sentido completo da morte. Não nos caminhos da carne." Rasgou o seu manto negro, com o qual atou as nossas cinturas, causando-me, eroticamente, nauseas. "Sopra para os cantos mais escuros da terra, e talvez despertes uma luz..." Então eu entendi a origem da morte, da vida, e da imortalidade. Dois igual a um, que é nenhum, nenhum é o ventre e um o phalo. Que o Universo, 0, é a copulação de todas as coisas. E que a chave da Divindade: Não temer; só o homem com a mulher podem criar. A nossa orgia durou para sempre, e o meu cerebro tornou-se num enorme fogo de luz e trevas; no relampago da queda de Lucifer.

Monday, September 04, 2006




CAP I
Liberdade
3 - Morte
Durante sete dias e sete noites os demónios torturaram-me, rasgaram-me, devoraram-me e reconstruiram-me. De dia fui queimado, à noite decomposto.
Quando voltei a Morte salutou-me no seguinte modo:
"Bem vindo a casa ó Dragão de sete chifres!"
E, vendo-me exausto na nova luz, colocou o seu braço de podridão à volta da minha cintura. Valsou, valsou comigo. As luas passaram, enquanto valsamos; o tempo voltou atrás rodopiando e enrolando-se nas asas deste dragão, de um fio nocturno de orvalho que se estatela no solo. O Reino dos Céus era uma promessa, pura negridão, crua verdade, solidão.
Os espiritos dos abismos valsaram conosco a valsa da morte, e nos nossos semblantes desenhava-se um sorriso triunfal, ébrio de caos, de um cansço incansável...
Então sonhamos que as estrelas explodiam como recordações do passado, como vivências eternas; como premunições do futuro... Tudo era banhado de negro ausente. Tudo era lavado, pela primeira vez, no rio da vida. Tombei. E levaram-me os corvos para terras sem nome, apagando-se, dilacerando-se a si mesmos como uma praga. Abandonando-me.
Perdido, em pura secura e amargura, apaguei-me também. Pois toda a água da vida servia uma só senhora: a Sede.
Então tudo voltou num só momento, a experiência, dentro de si mesma, a explodir o Universo.
A dança desvaneceu-se, eu era agora o rio... as pedras, as nuvens, nenhum... mas a vida que em tudo abunda.
Naquele dia o todo-maldito foi de mim retirado, para caminhar na minha sombra qual espirito familiar; e a morte disse: "Deixai os mortos enterrarem os seus mortos; deixai os vivos beberem com os vivos"
Na verdade,
só aqui me perdi.
Na verdade
só aqui, me ganhei...

Sunday, September 03, 2006


De todos os mentirosos surpreender-me-ia unicamente aquele que fosse capaz de enganar a solidão.
Ninguém pode enganar a solidão, se bem que um, brevemente, se possa enganar a si mesmo: eis que uma vez mais, neste teatro, se actua de si para si.
A solidão espera em todos os lugares, em toda a companhia, a solidão pode estar e está presente em tudo:
tal como tu, quando te chegas a mim adornada com as suas asas.

Friday, September 01, 2006

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