Sunday, September 10, 2006

“Eu vou-me libertar!”
“Eu vou-me libertar!”
….
Eu vou-me libertar
Dizia, fitando um comprimido branco,
Numa sala branca, cheia de gente branca,
Gente que não estava lá; só ele, no mundo
Só ele é que se ia libertar.

E do outro lado do comprimido ingerido
Um rapaz que escrevia um ensaio sobre a perfeição do homem, sobre a razão, e o equilíbrio são.
Um libertino do pensamento, dedicado à obra filosófica.
Recordava-se do seu gato e como ele podia dizer tanto, só porque era acariciado; da cor dos carros que o atraíam contra eles; era da mesma cor da luz eclipsante das pastilhas.
E todas as autoridades que o vestiram com roupas indesejadas.

E o comprimido branco.
Que o ia libertar.








Depois o outro escrevia um poema de amor:
O seu primeiro poema, e era para ela.
Ele tinha decidido captura-la num vaso sanguíneo para que não se extinguisse com a morte eminente.
Algo de estranho se levantava no processo. O seu espírito erguia-se de tal galanteio, e queimava-a toda, carne, alma, e o amor que ardia logo ali se extinguia com o ultimo sopro de vida da primeira bruxa.
As cinzas dela eram então a minha paixão, louca Fénix, enterrei-a em mim como se me fizesse terra. Engoli-a até aos ossos. Depois… Menti-te em todos os cantos, com canções diferentes.
Odiei-te ainda até hoje.











E então aquela, afogada no seu copo, sempre à superfície dos seus sonhos. Ele gostava de pensar nela como a eterna puta, a que vendeu a maior pureza que habitara as entranhas sangrentas e sujas da terra: que se vendeu a si mesma. Mas a verdade é que o unicórnio não pode para sempre galopar no antro da imundice. Ele era um demónio com uma coleira e um chicote e ele a ferida da branca pelugem a tornar-se em negro manchado. Ela, selvagem, nunca mais olharia para ele senão com ódio. Ah, mas o amor que lhe ia no coração. Esse, fê-la fechar a janela do olhar, até que não mais se pudesse encontrar. Então nem ódio nem amor. Mas um silêncio, arrepiante, absoluto. A Marca, no destino de todos nós.

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