Monday, September 11, 2006

O cansaço invadia-o, em todo o fôlego, em toda a carne.
Tombou na cama procurando, de olhos fechados, a alquimia da morte segura e despreocupada.
E ali, quando completamente indefeso, deixou passar um comboio. Sentiu a casa estremecer, abalada por uma paixão há muito perdida. Não sabia localizar, exactamente, o momento em que se perdera paixão aquela, porque tendia a confundir os nascimentos com as mortes, e as mortes com os nascimentos.
Os seus músculos e a sua respiração tornavam-se trémulos com a passagem do veículo e com o tremeluzir luzente da sua habitação.
Foi um comboio que trespassou, corajosamente ou apenas no ímpeto do suicídio, a escuridão completa da noite. Ele passou sem parar. Acredito que tu eras ali passageira, despedindo-te de mim, uma vez mais, num adeus sem tempo.
Um dia eu acreditei em ti, romance escrito às espirais da lua, de letras perdidas nas íngremes fendas da terra.
Deixo-te, agora, aos mortos que ali habitam, sem ter a certeza de estar vivo.

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