Sunday, September 10, 2006

Construí o meu caldeirão de ouro e latão. Enchi-o de um plasma acolhedor e ardi.
As palavras ecoavam no silêncio de páginas vazias de branco.
As horas de maior solidão marcavam a noite eterna em que me embriaguei de coisas incompreensíveis.
E uma vez mais, não são todas as coisas incompreensíveis, só por serem em si mesmas? Simples, derradeiramente simples, fatalmente simples, intoleráveis à razão.
Escrevi, afundando-me em histórias mudas, como crianças de ossos crescidos que me agarravam a perna num mar de imensidão estranha, estranha e escura.
Havia sempre, todavia, um Olho. E eu dizia: escrevo para o Olho. O Olho não sabe criticar, porque ele só me conhece a mim, e correctamente, porque sou tudo o que pode existir.
Ó teatro de sombras… Teatro de sombras…
Ó fantasma cansado, que a si mesmo se alimenta em mais um banho de frases antigas, poeirentas, acabadas de sair…
Mofo, o meu sangue é mofo… E ainda assim tu queimas-me, eternamente, com a luz do dia distante e nunca por vir.
Só tu Compreendes, só tu és capaz de me reduzir a nada… a um nada tão absoluto, tão atormentado pela violação da sua própria expressão.
Tudo isto uma vingança, porque não há razão de Ser. Uma Vingança sem razão de ser…
Eu vou voltar… eu volto sempre, ossadas das cloacas do tempo. Ossadas do passado e do futuro. O que resta hoje é a vossa história, ossadas que de ossadas nasceram, que para ossadas verteram.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home