Thursday, September 21, 2006

Numa encruzilhada fustigada pelos ventos quietos e silenciosos do verão, encontrava-se um pequeno rapaz. Bab Al’On avistou-o encostado ao muro cinza, coberto de musgo; falava e brincava com os seus próprios dedos e ostentava consigo um ar desleixado. Bab Al’On, galopou, calmamente, como que para não desviar a criatura das suas imóveis viagens, e, enquanto passava a seu lado permitiu-se a palavra. “O que fazes aqui? Estás perdido?” Perguntou.

Fitando as pedras do solo arenoso, com um ar algo desamparado, olhos postos num qualquer objecto que pairava no infinito, respondeu por sua vez. “Olá. Eu sou o A. Perdido do quê? Eu estou a conversar.”

Por detrás do seu véu escarlate, Bab Al’On sorriu. E esse sorriso teria rasgado o menino num jacto sanguinolento estivesse ele a descoberto. “E com quem conversas tu, ó menino?” E o menino riu-se. “Como assim, com quem? Eu converso com todos. Comigo.” Bab Al’On aquietou a sua montada e desceu. “Não tens outra pessoa com quem conversar? Uma menina?” O rapaz fixou a sua atenção noutra pedra. “Sim.” Bab Al’On aproximou-se sem ruido, a sua sombra tocava já o rapazito. “E onde está essa menina?” O rapaz, cedendo ao hábito, deu um pontapé na pedra que estava mais próxima das suas botas. “Não sei. Ela está por ai. Às vezes ela aparece aqui, depois da linha, ali,” apontou “onde passa o comboio.” Silencio. “Ela não tem muito tempo, tinha de estar com outro rapaz. E depois como tinha uma casa tinha de trabalhar. Mas ela vinha aqui, depois da linha, depois tinha de estar com muitos rapazes. Eram muitos. Ela não tem tempo porque eu sou só um. E não gosto de muitos, gosto só de um também.” O coração de Bab Al’On abriu-se, como uma vulva, pela inocência do rapaz que se assemelhava ao eterno primeiro desponte no jardim das almas; e, todavia, manteve em si captiva a visão do lobo. “E tu, menino, não tens casa? E um emprego?” O menino riu-se de si para si e quase levantou os olhos. “Tenho uma cama que é onde durmo. A casa é assim” ele apontou para tudo à volta. “Eu tive a trabalhar a fazer caixas de música, eles disseram que era no inferno” sorriu também ele “mas eu acho que era outra coisa qualquer. Depois disseram que eu fui o melhor e que não podia ficar ali. Que existem outros sítios.” Bab Al’On estendia a sua mão enluvada sobre a cabeça do rapaz, e o rapaz não via ainda uma luz e um eclipse. “E ficaste à espera, ó menino?” O rapaz riu-se de novo como uma criança, e o coração de Bab Al’On segregava. “Esperar? Como assim? Esperar o quê?” Depois, quando voltou o olhar para Bab Al’On, este recuo um pouco. O rapaz viu um Senhor Árabe, coberto de largas vestimentas escarlate, de luvas cinzentas, ou seriam negras? As pulseiras, sim, as pulseiras eram negras. O rapaz não entendia muito bem porque o Sol parecia bater no senhor e criar um misto de escuridão e luz. “E tu, quem és?” E quando Bab Al’On largou as suas vestes e afirmou ser a Casa do Deus Sol, o rapaz tornou-se guerreiro, e guerreiro se tornando, querendo sobreviver à esperança do eclipse que existe ali onde tudo falha, empurrou uma lança cintilante no coração de Bab Al’On.
Para seu terror, Bab Al’On, inchando, abortava agora a menina, e todas as coisas que eram queridas ao menino. E, quando o menino, que voltava a ser menino, fechando os olhos no advento do terror, procurou escapar, também ele saiu como uma má formação do ventre d’Aquele. Então o menino caiu como um sopro de morte; e, no parto, Bab Al’On suspirou por uma ultima vez.
A montada fez de ambos banquete e, envenenada, ali onde foi enterrada, começou a crescer uma árvore, que vinha do céu para encher a terra de galhos e de novos meninos e de novas meninas, todos polinizados de morte. Todos eles secretamente habitados e conduzidos pela morte e pelos seus anjos de luz e fogo na via da bruma.

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