Monday, October 02, 2006

Ali onde ele gritava de medo, de furia.
Ali onde o solo eram espinhos.
Ali onde as gotas do seu sangue faminto
criavam um caminho para o desespero.
Ali onde os pantanos se mancharam de nada
de um nada com uma historia de pavor
de um esquecimento doloroso e precoce
de toda a dor demasiada.

Ali onde a serpente nojenta
se enrosca para ouvir o coração bater
o coração desolado
ferido por mil mascaras, cansado da vida
descarnado, à procura de carne e de sangue
à procura de calor para gelar,
porque os seus caminhos foram revertidos
e todos os seus rebentos suicidios.

Cala-te monstro.
Não resistas mais.
A morte é um fado.
A canção é o sepulcro
das nossas vivências
sempre cinzentas,
no fim, sempre cinzentas.

O desespero do morto,
é o morto, porque não o pode ferir
não o pode ferir para viver.
Veste-se de pele de dragão
e sopra as carnes secas
o seu trono constitui-se de corações molhados
de lágrimas.

O seu reino putrido
habita todos os palhaços do escarnio
que se reunem para latir com os cães
à volta da minha carcaça.

O sol põe-se...
o sangue escorre...
e ninguém olha.

O sorriso parte-se
os dentes salientam a fome
a pele as feridas palpitantes
a noite o soluço gritante
a alma o vomito do terror
os dissabores reunem-se no caldeirão
para criar a outra boca do inferno.

Esqueçam-me, filhos da puta,
pois teria sido uma mais valia
jamais viver entre escravos.

Ergam-se baleias negras da morte
empurradas pelo tridente de Leviatã
soprada em vapor pela manhã
entre ciprestes e olhares agrestes
de viuvas por dentro dos caixões do momento.
Oh ergue-te demoniaco sopro da agonia
nos chifres do prazer mente-te a ti mesmo,
no tempo do lazer finge que não é nada
a tua doença visceral.
Diz trai-te. Ó tu que não vales nada
senão a fuga da promessa.

Mas se eu me condenei para todos saberem o que é a morte,
e ali a tranquei num cofre;
tu deverás recebe-la de braços abertos,
para que assim flua, qual consorte.

2= morte.


Então o escorpião correu os meus braços em toques de luz feita a cetim.
Senti-me culpado por me juntar à legião, que do seu cadaver se saciava. E voltei a ser moribundo.
Porque os seus gritos jamais se calarão, os seus gritos demasiado horrorizados para serem humanos.

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