Friday, June 16, 2006

CAP I
LIBERDADE
1 - Desejo

VI

“O que o homem melhor aprende nesta vida, é a odiar e a descriminar, isto, é claro, junto à arte de se envergonhar com violência tamanha, tamanha. Então o mundo quebra-o, já depois de quebrado, e verga-o já depois de vergado, neste momento ele aprende a agir como aqueles que aprendeu a odiar.” Riu-se. “Mas tu vais aprender mais ainda, vais aprender a ser aqueles que ousas odiar…” E com isto, levou-me a praticar determinadas danças com as máscaras, e a permanecer nas posições engendradas para as minhas desprezadas personagens, fez-me, igualmente, escrever novas dissertações desta vez através da boca e do pensamento das mesmas. Também, este pediu-me para construir uma bandeira cujo emblema simbolizasse todo o tabu que me restasse, e um poema em adoração ao mesmo. E, tendo eu isto realizado, transportou-me para um círculo entre as vinhas, à luz da Lua. A norte, encontrei uma vela escarlate, uma vela púrpura a oeste, a este e a sul velas negras, todas estas acesas. Ao centro estava um altar com a minha pequena prece em adoração e o emblema que pintara, juntamente com vários cálices de cristal. Havia, sobre o altar, um pano vermelho com um pentagrama invertido em dourado ali incrustado, juntamente com um sino. Ardiam, em volta do círculo, vários cigarros. Quando olhei para o meu companheiro, e desta vez sem adrogenidade, senti-me totalmente atraído por ele, ganhava contornos masculinos de besta luxuriante e libidosa, e eu, sentia-me femenino, como uma prostituta insaciável para a qual tudo é bom. Por momentos, ele recordava-me do meu pai. Parecia cheira-lo. Aproximou-se de mim, colocou a mão no meu peito, empurrou-me contra o altar, no qual me postei sentado. Tomou, com o calor da sua boca, o meu pénis, e eu adorei-o em palavras, exaltando a sua liberdade. Ele colocou-se agora sobre mim. “Nós acreditamos…” e senti-me compelido a prosseguir a sua frase com tudo aquilo que ainda encontrava resistência no meu sistema de crenças ou na minha ética ou na minha educação. A sensação de ausência de barreiras era intoxicantemente erótica, oferecendo a excitação de um Pânico desconhecido, deixado em ardente desejo durante séculos. Ainda sobre mim como uma fera, ele retirou a adoração que eu escrevera induzindo-me a recita-la. Fi-lo, e fez-se, por sua vez, silêncio. Então, ergueu-se e pendurou o sino ao seu pescoço, ficando, depois, de pé, fitando-me repleto de desejo e de domínio. Eu coloquei-me de gatas, voltando o meu ânus para si. Quando me penetrou eu gritei uma adoração a si, como a prostituta terrestre que recebe a besta libertina, livre e luminosa. Nós gemíamos, juntos, um ofegante hino a Lúcifer, o sino balançava como se provindo de um bode, e, ainda dentro de mim, ele ergueu-me de encontro ao altar, afastando as minhas pernas e depositando as minhas mãos nos cálices. “Beija-os, em minha honra!” Fi-lo declarando “em tua honra” e bebi-os, apercebendo-me de que bebia o seu esperma e o seu sangue. Senti-me agoniado pelo eminente vómito, mas ele desviou a minha atenção, “exalta esta dádiva e bebe-o em vida, com vida e pela vida”, quando o fiz ele riu-se, apertando-me contra si na penetração. “Vira-os ao contrário, e se uma só gota cair, assassino-te aqui mesmo”, obedeci, nenhuma gota sobrava. Ele cantou em latim aquilo que percebi ser um hino ao Sol e a Lúcifer, à Luz, à sombra da Morte, e a algo sideral. Voltou a colocar-me de gatas sem nunca sair de mim, tornando-se, agora, especialmente violento, e empurrou a minha face contra a bandeira. Adorei-a como sendo o Sol e o simbolo escolhido pelos deuses, a única via para a coragem e para sonhar. Por fim, levou uma mão ao meu órgão sexual, instigando-o, e explodiu em mim, soltando-me e deixando-me em desejo. Levou um dedo ao meu ânus, e provou a branca espessura. Riu-se. “E depois da copulação, eis que te decepei.”
E foi assim que perdi toda a restea de humanidade, tornando-me, finalmente, humano, e especialmente, e acima de tudo, animal. Até a minha capacidade de raciocínio perdera qualquer base sólida. Nada era verdadeiro, mas o Universo estava revestido da minha carne, e, encontrava-se, no meu desejo, selado. Não haviam leis, tudo, dado a falsidade de qualquer coisa, era permitido, e foi assim que me dirigi, em dúvida, ao diabo, interiorizando com problemas o seu dito casamento com as leis universais. Nesta altura, o diabo forjava uma espada, que, servia, dizia ele, para decapitar pessoas iguais a mim. “As verdadeiras leis, aquelas a que chamo leis universais, não são atingidas por meios racionais, os quais as podem apenas representar defeituosamente. As leis cósmicas acontecem naturalmente, quem as acolhe planta prosperidade até depois da morte, se tiver, com isto, uma consorte. Quem as rejeita, por sua vez, colhe miséria. Ninguém que esteja preso a certas convenções alcança a compreensão destas leis, mas nenhum negócio ocorre sem determinadas regras. Esta espada tem a função de separar a cabeça das serpentes do seu corpo, e isto tem dois significados, ora que a serpente é a força auto-inteligente e, que a partir do momento em que a dominamos a nossa inteligência se torna soberana; ora que é capaz de libertar o homem das amarras do pensamente falso e eleva-lo acima dos planos racionais; traduzindo, tu, como exemplo, és uma serpente, uma serpente rastejante que caminha às voltas a morder a própria cauda, neste caso, decapitar-te é unir finalmente a cauda à cabeça, deixar de diferencia-las, neste sentido, a serpente torna-se na eternidade, algo além do inicio e do fim, e isto continua inominável para a razão quotidiana.” Foi a minha vez de me rir. Achava o diabo confuso e estava disposto a expo-lo. “A serpente ofereceu o fruto proibido, portanto, a Adão, a Eva, e a um determinado ser hemafrodita. A lenda diz-me que sou filho de Adão, e o mesmo me fizeste crer, tendo, todavia, comparado-me, agora, à serpente” A sua mão voltou a estalar suavemente contra a minha face, alterando a minha percepção. “Não és tu eu, como te mostrei no espelho, e não sou eu tu? Eu sou o hemafrodita que comeu da vossa hedionda fruta e resistiu, vós sois o homem que comeu da vossa própria fruta e apodreceu. Tu aprendeste a primeira lição relativa à Liberdade, e esta é o desejo. Para se chegar à liberdade, é necessário ressuscitar, para ressuscitar é necessário falecer, para se falecer é imperial desejar. Eu cortei a cabeça desta serpente, mas eis que se agoniza ainda, falta-lhe a morte, que, sem espera, se aproxima a passos largos”

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