Thursday, June 22, 2006

There is a dream inside a dream, the more I wake the more I sleep - M. M.


"Não estou certo disso. Não estou certo disso... é muito tempo para um emprego que fica no minimo a duas horas de distância..." De facto, a oportunidade afigurava-se longe, na cidade da Lua decrescente, que ficava do outro lado do rio negro que transportava os mortos que se arrastavam de um lado para o outro, a mando de um qualquer necromante de mão não visivel. Quem não se mostrava muito disposto a ouvir tamanhas babuzeiras lamechas era a sua mãe, que, gorda, se fazia transportar numa cadeira de rodas. Enquanto as suas tetas se esticavam para estrangular uma metade dos seus bebés, respondia de modo autoritátio "á tu vais!", os outros bebés abriam e fechavam compulsivamente a boca, voltados para cima, na sua espera pelo alimento. Foi então que o decidiram a partir em busca do tesouro da perdição. Ele encontrou, na Cidade da Lua Decrescente, um local muito sereno, à beira do rio, por debaixo do qual as estrelas brilhavam duas vezes e as aves desenhavam profecias no seu dominio aéreo, as rochas transportando duendes do mundo etéreo. Depois descobriu que ali era paz, que ali era eterno, excepto nos cubiculos onde se trabalhava fechado, pelo menos para um inútil paralítico de semelhança a si. Lá estava a terra prometida: 'OCEANÁRIO de Lisboa (quer dizer, da cidade da Lua Decrescente)', leu. Meio hesitante, foi de encontro a um segurança. segurança este que o inquiriu, com um fato estupidamente laranja. "Vim por uma entrevista de emprego, com a senhora xpto", o laranja riu-se para dentro e para dentro o conduzio. Ele espera, enquanto alguns dinoussauros aprisionados se domesticam ao riso leviano das crianças. Os diabretes brincam agora com tudo, eles correm e transportam agora tudo, os diabretes apoiam-se num balcão e sugam o atendimento ao publico. Pobrezinha, ainda lhe sorri um sorriso sincero e reservado, (talvez um novo colega na inquiedade de se ser escravo imperador, quem sabe, até em coisas bem mais relaxantes e simultaneamente excitantes), "A madre teresa demónio ainda não chegou, dê meia volta, e vá para de onde voltou". Depois um rapazola sorria-me largamente, com um fato laranja (ou seria amarelo?), e as entrenhas saiam-lhe pelo orificio escancarado. "Não sejas como eu... não sejas como eu... não sejas como eu... Um gótico só devia sair ao crepusculo, um gotico só devia sair ao crepusculo, um gótico só devia sair ao crepusculo".

Procurou um café, depois, lembrou-se que o café era só para os parasitas do cobre, especialmente os cafés da zona. Então deslocou-se a um local que lhe era muito mais especial, muito mais saboroso, e entre a copa das arvores espreitou a luz solar revelar os mistérios da vida, do amor, e da morte. Recordou o seu grande amor, ali perpétuamente esculpido sem a necessidade do gasto da pedra. Descansou, observou o que lhe contava o relógio, e voltou ao local.

'Óceanário de Lisboa (isto é, cidade decadente)'. Hesitante, voltou. Observava agora os diabretes de mais perto, quase podia tocar-lhes. Brincavam de novo com os dinossauros, porque estas crianças são tão maiores. Conseguia sentir a pureza e a malicia que emanava dos seus poros a ventilar-lhe a pele, e soube-se mais imune do que estes pequenos infernos. Voltou à senhora do atendimento ao publico, duas decrépitas idosas lançavam-lhe olhares e cobiçavam-lhe a carne, o olhar, o sorriso, a alma. Interpôs-se. "A senhora xpto já chegou?" Sorria o seu sorriso embaraçoso e despaçarado, que sabia resultar, a sua desordem sempre fora o seu charme natural, talvez, o único charme natural (e não repetidamente lascado a martelo sagrado de sangue e de guerra) que lhe sobrava. "Não ainda, mas já deve estar a chegar", ele inclinou a cabeça, timidamente cordial, o gesto que já pouco se faz mas que era talvez o seu favorito. "Obrigado", e dirigiu-se de novo para as sombras claras, ignorando a bruma toda-circundante das crianças do diabo. E foi assim que deu entrada a Mãe de todas as Abominações, percorreu a loja de um lado ao outro, perfurando pelo gabinete. Seguiu-a, sem uma palavra, sentou-se na cadeira à sua frente e foi comprimentado, respondendo desta vez quase rudemente. Aquela mulher ameaçava-o, ele deixava ãs mãos amassarem-se entre si, imaginando que talvez amachucasse aquele naco de carne andante, ou talvez lhe estimulasse os mamilos soltos de sotien enquanto ela gritava no seu interior. (Que merda é este gajo?) pensa ela; (hey, eu hoje até vim com a roupa de um amigo!), pensa ele. "Está a pensar para o ano voltar a estudar?" - "Saberei quando o ano começar" (porque, acha que eu preciso de estudar muito para atender uma criança? ou para impedir que tirem fotos aos idiotas dos peixes? ou para passar bilhetes? sua puta?) "Mas quer dizer que vai estudar para o ano, ou não?" - "Não sei, isso é algo que ainda vou decidir" (deixa-me dar a este cabrão três distintas formas de morte), "prefere bilheteria, atendimento nesta loja, ou pavilhão?" (ena, a tipa até me está a dar o que escolher. "do que consiste o pavilhão?" - "praticamente não faz nenhum a não ser vestir um fato engravatado e por-se chique, quando alguém tira uma foto a um peixe com flash e calha estar a observar o mesmo peixe, pede para que desliguem o flash" e o inutil escolheu o pavilhão, interrogando-se qual a cadência dos dias na sonoridade da vida aquatica. Á saida, o rapaz cujo sorriso se debruçava sobre as entranhas escorregadias, "desejo-te muita sorte, muita sorte, muita sorte. Aqui eu sou o tolo, mas ganho cá de dentro o direito de lá fora, quando ninguém já vê, fazer o papel, igualmente, do diabo" Subiu, sem ninguém lhe impedir o caminho, passou as vedações, espiou os idiotas, pareciam mais perdidos do que os vistantes, encontrou o diabo, que, naquele momento, coçava a carne do queixo com as suas garras. Tinha o fato mais bonito de todos. Chamou-o para um canto obscuro e ali prosseguiu com a entrevista. Perguntas usuais, mesmo relevantes, como o curriculo. "E gosta de metal?" (será que o tipo simpatiza?) - "Acontece-me gostar" O incandescente sorriso de abutre ofuscou toda a vida maritima. "Pois... isso é por causa do metal?" (raios, mas o quê? o plover do meu amigo? ou será pela barba? o cabelo? bem, é curto, os pendentes estão escondidos; bem, seja como for, o metal é a pouca parte, mas o que compreenderia o diabo quando o único diabo sou eu?) "em parte" - "Pois... isso é tudo muito giro" ele quase parecia simpático tamanha era a sua putridão "é que o metal não dá emprego. queremos pessoas limpas e responsaveis. os metaleiros podem emprego num bar, ou no halloween, ou no carnaval, mas para a proxima não me falte ao respeito de sequer surgir aqui, pois sei que aqui chegou apenas por cunhas, agora vá se esconder" Ele sorriu, e despediu-se do diabo. "Só um momento", fê-lo voltar atrás, "conhecimento de linguas estrangeiras?", "perfect english, sir my devil"

Encontrou dois vultos negros perto da sombra dourada da agua corrente, ao dirigir-se ao retiro, beijavam-se como duas árvores viuvas em saudade. Depois, enquanto os seus pensamentos fugiam, uma chamou por si. Encontraram mais duas, e, a poucos passos, um operador fixava a rua, a sua carrinha estava aberta para a música se soltar. "Opium, desire or will". Ajudaram este homem nas suas funções. "Ajudamos os nossos". Teceram uma teia de compreensão lazuli e de ideiais dourados, e morreram de fome, presos nela.

1 Comments:

At 6:21 AM, Anonymous Anonymous said...

O texto está bom, mas que parvoiçes encontro por aí. Depois falamos sobre elas.

 

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