Sunday, October 29, 2006

Enquanto um mudava de formas,
o outro tornava-se.
Enquanto num o coração ardia,
o outro era o fogo dos céus volventes.
Enquanto um passava pelas coisas do mundo
o outro atravessava-as.

Porquê a predominância do romantismo neste espaço de espelhos e façanhas?

1 - A valorização da manifestação individual; a capacidade do ser humano se ensinar e se construir a si próprio por intermédio da sua interacção consigo mesmo e com o mundo; e, porque procura ver no mundo uma extensão da sua alma, o romantico cria-se à sua própria imagem à semelhança de um segundo demiurgo, ou de um deus.
(... A possibilidade de se fazer do mundo uma representação coerente não retira nada ao facto de o mundo tal como é em si mesmo não ser o mundo tal como se reflecte no espírito humano.... Nada pode, fora do próprio ser humano, decidir do que será a sua opção de homem ...
Kant)
2 - A auto-analise por via da emoção exprimida e levada a confessar-se em detrimento do recalcamento.
3 - A defesa da liberdade, da vida, do amor e da luz.
4 - A busca das origens e o combate à corrupção social a favor da pureza e do estado de inocencia humana.
5 - O respeito à infância, à nação, à tradição (que caracterizam o individualismo grupal e individual, e potencia a contribuição de cada sub-grupo num panorama mais generalizado).
6 - O Romantico é um teórico do irracional, exprimindo-o por via da ciência das letras, tendo presente o espirito literário, brindando a besta de inteligência e dando-lhe uma via de criação/recriação metódica.
7 - A insatisfação do individuo com o mundo que o circunda, a sua revolta contra a ordem estabelecida e estagnante, o caracter da sua rebelião social, politica e metafisica.
(... "Sobre a bandeira romântica, leu-se esta tripla divisa: liberdade política, religiosa e literária", escreveu F. R. de Toreinx em 1829; Goya considerava Satã o Deus do Romantismo)
8 - A materialização da tendencia vertiginosa em direcção ao infinito, ao outro, ao divino.
9 - O acto poético como êxtase derivado da inconsciência, a dissolução do ser no seu próprio mar primevo de esquecimento, abandono e criação, revelando novas realidades.
10 - A fertilização por parte do mundo exterior (chamado real) no interior (chamado de sonho) e do interior no exterior, revelando com naturalidade a impressão da alma na natureza, por via do mito: o principio vital e a animosidade que anima o romantico; a busca pelas portas da percepção que o levam à mesclagem com o mesmo estando nisto a sua passagem para a luz ou o desfalcamento no abismo; a poesia resultante, como o acto mágico da cristalização do transcendente.
11 - A valorização da dualidade espelhada na sua imagem unificada por via da arte: prazer/dor, beleza/horror (Novalis afirmava que a crueldade provem da volupia assim como a religiosidade, Hugo escreveu "A Morte e a Beleza são duas coisas profundas (...) Duas irmãs igualmente terríveis e fecundas")
12 - O meu gosto pelas enganadoras mascaras da forma, tão sedutoras no seu amor, implorando, em cada manifestação, serem tomadas pela Luz que nunca se afecta; brotando eclipses nos cegos.





"... o pintor evocará na paisagem o prolongamento da sua melancolia ou dos seus sonhos. Não se tratará realmente de um programa nem da observação directa de um sítio, mas da escolha de elementos eleitos em função do seu valor sentimental."

Mas o romantico está condenado ao delirio,

fechado na sua caixa de si mesmo.

XEPER

2 Comments:

At 2:01 AM, Blogger Anji said...

o teu ponto 8 é para mim o que melhor define o romantico. A identificação do inifinito com o outro.

para além dele está aquele que diz e sabe que tudo o que pode ser nomeado é falso, e que essa (anti)consciencia é em si o ultimo acto de amor.

O homem lagarto, sorri aquilo que à maioria parece ser uma morte e um desgosto, mas na realidade é um eterno nascer do sol.

Seti ;)

Agape

 
At 8:10 AM, Blogger HornedWolf said...

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